O que Jesus pensou quando leu o Salmo 1?
Como foi que Jesus encarnou isso?
Como ele viveu isso?
Sim, pois dizer que “o verbo se fez carne” significa que tudo que havia sido verbalizado como inspiração divina antes, foi encarnado em Jesus de Nazaré. E, lendo o salmo 1 a partir de Jesus, as perspectivas mudam, pois Ele passa a ser a chave que nos abre todos os tesouros.
Ora, ímpio (oposto de pio) é todo ser que não é capaz de exercer misericórdia.
E mais: essa estrutura ímpia está instalada nas associações religiosas. Irônica e contraditoriamente, os das tais associações acham que o ímpio é o que não segue a sua formação religiosa, que o ímpio é o que não está no seu meio. Esse achismo já impede estes de exercer misericórdia, pois há uma confusão instalada em suas mentes, afirmando-lhes que piedade é um esforço religioso de se comportar adequadamente. Adquirindo para si uma presunção de juízo, endurecendo-se, dando-se poder de determinar quem é ímpio pela aparência, pelas visualizações, pelo não pertencimento ao grupo enquanto, na verdade, a piedade se manifesta como exercício de misericórdia.
Na perspectiva religiosa, esse é o ímpio. O religioso torna-se moralista e, consequentemente, desprovido de capacidade de reconsiderar qualquer coisa. Cheio de juízo, acha que ímpio é quem não aceita nem segue rigorosamente sua confissão de fé.
Enfim, etimologicamente, o ímpio é aquele que é mau, que tem rigidez mas sem qualquer densidade dentro de si, que é sistemático, não volta atrás, fecha questões, não pensa diferente, suas certezas são totais; então segue adiante, gelado, esfolando, arrebentando.
Do ponto de vista histórico, como Jesus fez essa aplicação?
Como ele viveu? Quem Jesus chamou de ímpio?
Quem era o ímpio nos tempos de Jesus? Seria Zaqueu, o publicano? Seria Maria Madalena? A resposta é NÃO.
A quem ele chamou de escarnecedor, de ímpio? Ao fariseu.
Onde você não vê Jesus nunca e qual a principal roda dos escarnecedores? O templo.
É no templo que eles estão. Usando descaradamente o nome de Deus, falando a mentira em nome da verdade de Deus, manipulando o nome de Deus com aquela cara lavada, toda bonitinha, toda certinha, toda arrumada, toda enquadradinha. Sua impiedade é gradativa e praticamente imperceptível; impiedade que envenena com mil disfarces. A impiedade escrachada não traz grandes perigos; esta sim, é a que mata, a que nos envenena sutilmente com todas as formatações do suposto bom conselho. Conselho que não carrega vida, não carrega reconciliações, não carrega graça, nem misericórdia, nem oportunidades; só morte e finalizações. Isso é que é falsificação da palavra de Deus.
Nesse agrupamento JESUS nunca se assentou. Ele só foi lá amarrado. Para ser julgado. Ele preferiu morrer entre dois ladrões a se assentar entre aquela curriola divina que se exalta declarando para si mesmo uma não-pecabilidade, batendo no peito e dizendo: "graças dou por não ser como os demais..."
E onde você O vê?
Você O vê nas esquinas, nas praças, no caminho, nos bares, nas noites, nos jantares, nas celebrações, nos casamentos, dando atenção a quem ninguém dava, incluindo quem estava fora, chamando pelo nome aqueles a quem não eram nomeados, socorrendo problemas do tipo “não pode acabar o vinho”.
Portanto, cuidado com as certezas dos seus conselheiros.Toma cuidado pra ver onde é que você está recebendo informações a partir das quais você alimenta sua vida. Veja se elas são fruto da misericórdia, da graça, do amor e da justiça ou se elas são produzidas pelo juízo, pelo julgamento precipitado, pela atitude de esmagamento do outro e pela incapacidade de jamais voltar atrás.
Ou seja, cuidado com conselheiros cheios de certezas prontas e acabadas, pois a misericórdia sempre deixa uma porta aberta. Ainda que seja pra você escapar. Uma porta estreita, apertada, que o livrará do embaraço, do problema, da aflição, da angústia, da culpa, da dor.
Bem aventurado o homem que não anda no conselho de quem não tem coração, daquele que não tem misericórdia. Pois o pior escárnio é a indiferença ante a verdade de Deus.
Para o bem aventurado o prazer está na lei do Senhor.
A lei do Senhor, para Jesus, é a GRAÇA.
Jesus nos chama para dentro de critérios imponderáveis da verdade, da justiça, do amor e da misericórdia. Em vez de aprovar o religioso certinho que cumpria regras, Jesus deu preferência àqueles que eram reprovados, invertendo parâmetros e lógicas, subvertendo aquela ordem estabelecida pela tradição religiosa transmitida pelos líderes que invalidaram a Palavra de Deus. (Marcos 7)
E, esse chamado, não é algo que se sente e também não está escrito em algum lugar. Você é tocado por ele. Isso tem a ver com entendimento que é fruto de uma consciência que está grávida de outros valores; que abre pacotes, que pergunta pela misericórdia ao final de cada coisa, que não deixa o sol se pôr sobre a ira, ou seja, não deixa o dia cair e a noite abraçar você e te ninar com amarguras. (Ele não diz para não se irar, mas para não permitir que o ocaso daquele sentimento se congele, dando lugar ao diabo).
E na Sua lei medita de dia e de noite...
Sem ter hora nem lugar para meditar pois meditação é a vida. Ai daquele que precisa de tempo e local para meditar. Meditar é existir. Existir conforme a lei da graça e não de cartilha religiosa.
Aliás, se a nossa salvação dependesse da síntese dos mandamentos estaríamos falidos."Na lei da lei estou perdido. Na lei da graça eu estou salvo".
Aceitando a graça como lei é que somos salvos. Salvos de nós mesmos para sermos graciosos com o outro. Fazendo manutenção da graça em permanente estado de perdão, à medida que a praticamos no cotidiano com o outro. Está conquistado! Em Cristo, a gente sai liberado. Ele nos tira dos tribunais e nos traz para a consciência que nos diz: quer perdão, perdoa; quer graça, seja gracioso; quer misericórdia, seja misericordioso; quer ser compreendido, entenda. Esse é o SER que está andando debaixo da lei de Deus. Para este há ressurreição. Ainda que morto entre dois ladrões. Pois a Graça foi conquistada por Jesus na Cruz pra mim para sempre; sou chamada com convicções reforçadas, a aplicar tal manutenção junto ao meu próximo na qual recebendo favor infinitamente imerecido, fazer favor infinitamente imerecido. Esta é a lei do caminho e bem aventurado quem transforma isso, não em compreensão intelectual, mas num estado de ser.
Peçamos a Deus:
Senhor, constrói dentro de mim um ser sólido, não rígido; constrói algo denso, não pedrado; constrói em mim verdade, não moralismo; algo que esteja além da minha compreensão e que eu não precise explicar por saber que é verdade.
Amém
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